DAS ROUPAS

E um tecelão disse: Fala-nos das roupas.

E ele respondeu: “Vossos trajes ocultam muito de vossa beleza, porém, não escondem o que não é belo. Embora procureis nos trajes a proteção libertadora de vossa intimidade, neles podeis encontrar arreios e cadeias. Pudésseis enfrentar o sol e o vento com mais epiderme e menos roupa; pois o sopro da vida está na luz do sol e a mão da vida está no vento. Alguns dentre vós dizeis: ‘O vento do Norte foi quem teceu os trajes que vestimos.’ Eu, porém, vos digo: ‘Sim, foi o vento do Norte. Mas a desonra foi o seu tear e o enfraquecimento dos nervos, o seu fio. E quando completou seu trabalho, reiu-se na floresta. Não esqueçais que a decência é um escudo contra o olhar do impuro. E quando o impuro desaparecer, que será a decência senão um obstáculo e uma mancha na alma? E não esqueçais que a terra se rejubila de sentir vossos pés desnudos e que os ventos anseiam por brincar com vosso cabelo."

Khalil Gibran